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Trabalho final para o curso de "R para Ciência de Dados II". Análise dos dados criminais de SP nas últimas duas décadas.

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Análise dos dados de criminalidade da Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP/SP) - 2002 a 2020

Rafael Rocha

Objetivo

O presente relatório tem como objetivo apresentar uma análise preliminar do banco de dados de índices criminais da Secretaria da Segurança Pública do estado de São Paulo (SSP/SP). Este banco é composto pelo número de ocorrências mensais de diversos crimes no período de 2002 a abril de 2020, no nível de delegacia para todos os 645 municípios do estado de São Paulo.

Série histórica dos principais índices criminais - 2002 a 2019

Uma primeira análise é a da série histórica dos principais índices criminais no período de 18 anos entre 2002 e 2019. Como os dados foram calculados por meio da agregação anual, os dados referentes aos quatro primeiros meses de 2020 não foram utilizados nas análises a seguir.

Tendo em vista o grande número de municípios no estado de São Paulo, nesta primeira análise optamos por agregar as 645 cidades paulistas de acordo com sua macrorregião, ou seja, Interior, Grande São Paulo e Capital. Foram escolhidos quatro tipos de crimes violentos, ou seja, nos quais existe a ameaça ou uso da força: os homicídios dolosos, estupros (totais), roubos (totais) e roubos (veículos).

Figura 1. Série histórica dos homicídios.

Nas últimas duas décadas o estado de São Paulo apresentou uma redução intensa dos homicídios dolosos. Como ilustração, no ano de 2002 o estado registrou uma taxa de 33 homicídios dolosos por 100 mil habitantes, enquanto em 2019 esta taxa chegou a seu patamar mais baixo desde o início da série histórica pela SSP/SP - 6,5 homicídios dolosos por 100 mil.

É importante destacar que esta queda não se deu de maneira uniforme nas três macrorregiões do estado. Enquanto a Capital e os municípios da Grande São Paulo tiveram uma redução mais intensa, os municípios do interior, especialmente a partir de 2008, tiveram uma evolução marcada por certa estabilidade pontuada por elevações e reduções de menor intensidade. Desde o ano de 2004, a capital paulista deixou de ser a macrorregião com maior número de ocorrências de homicídio doloso, posição que é ocupada desde então pelos municípios do Interior.

Figura 2. Série histórica dos estupros.

Por sua vez, as ocorrências de estupro total - ou seja, a soma dos estupros com os estupros de vulneráveis -, tiveram uma trajetória oposta à dos homicídios dolosos no intervalo entre 2002 e 2019. As séries históricas das macrorregiões se mantiveram relativamente estáveis até o ano de 2008, quando houve um forte aumento das ocorrências de estupro, sobretudo nos municípios do interior, que passaram de cerca de 1800 ocorrências nos municípios do interior em 2008 para mais de 7 mil ocorrências de estupro no ano de 2012 neste mesmos municípios.

Alguns estudos apontam que esse forte aumento dos registros de estupros no final dos anos 2000 se deve, ao menos em parte pela intensa divulgação de campanhas para denunciar esse tipo de crime, associada ao maior conhecimento da Lei Maria da Penha (de 2006), que pune de forma mais severa agressões a mulheres, e à disseminação de delegacias especializadas, contribuíram para que os casos abusos fossem relatados. Ainda assim, a tendência de crescimento dos registros de estupros se mantém no estado uma década depois destes marcos, ainda que de forma mais lenta.

Figura 3. Série histórica dos roubos (total).

Entre os anos de 2002 e 2019, o volume de roubos, ou seja, englobando todas as modalidades, como de veículo, de carga, e demais, se concentrou na capital paulista, seguida dos municípios do interior até o ano de 2018, quando o volume anual de roubos das cidades da Grande São Paulo superou o das cidades do Interior. É possível identificar um aumento do total de roubos de 2002 até 2009, com uma certa estabilização até 2013, quando se inicia um aumento que vai culminar no pico de ocorrências de roubo de 2014, maior registrado pela série histórica nas três macrorregiões.

Após 2014, tanto nos municípios do interior como na capital se inicial uma tendência de queda, que no entanto começou nos municípios da Grande São Paulo somente em 2016, e que se manteve até 2019, exceto na capital paulista, cujas ocorrências de roubos voltaram a aumentar no último ano da série histórica.

Figura 3. Série histórica dos roubos (veículos).

A análise especificamente da modalidade de roubo de veículos aponta que, novamente, durante todo o período analisado, o maior volume das ocorrências de roubo de veículos se concentrou na capital paulista, seguido pelos municípios da Grande São Paulo, e finalmente, os municípios do Interior. De forma geral, as três macrorregiões seguiram tendências semelhantes, ainda que o voluma dos roubos de veiculos na capital tenha saído sempre mais elevado: um período de queda das ocorrências de roubos entre 2002 e 2008, seguindo de um momento de aumento até o ano de 2014, no qual se atinge o pico dos roubos na série histórica para as três macrorregiões, e finalmente, uma forte redução entre os anos de 2015 e 2019.

Taxas dos principais índices criminais por município - 2002 a 2019

As séries históricas apresentam uma perspectiva mais geral acerca do comportamento dos principais indicadores criminais nas macrorregiões do estado no período entre 2002 e 2019. No entanto, a base original da SSP/SP possui os dados desses indicadores criminais por município, e portanto, passíveis de comparação entre eles.

No entanto, os municípios de São Paulo variam em tamanho e população, entre 838 habitantes e 12 milhões, de forma que uma simples lista comparativa evidentemente vai apresentar apenas os municípios com centenas de milhares de habitantes, e logo, volume mais elevado de crime. Dessa forma, utilizamos uma base com a população dos 645 municípios do estado nos anos de 2002 e 2019 e a mesclamos na base da SSP/SP, em uma ação de pivotagem e posteriormente junção das bases, que permitiu o cálculo da taxa dos indicadores criminais de cada município por 100 mil habitantes.

Foram selecionados para a análise os crimes de homicídio doloso, estupro (total), roubo (total).

20 maiores taxas de homicídio doloso por município - 2002 a 2019
Município Ano População Taxa de Homicídio Doloso
Santa Rita do Passa Quatro 2003 2451 204.00
Santa Rita do Passa Quatro 2011 2532 197.47
Santa Rita do Passa Quatro 2012 2521 158.67
Borá 2004 818 122.25
Flora Rica 2010 1752 114.16
Aspásia 2005 1800 111.11
Santa Mercedes 2012 2836 105.78
Nova Castilho 2003 1008 99.21
Santa Rita do Passa Quatro 2005 2199 90.95
Iaras 2003 3331 90.06
Nazaré Paulista 2002 14986 86.75
Iaras 2005 3617 82.94
Arapeí 2011 2484 80.52
Óleo 2019 2496 80.13
Uru 2013 1252 79.87

Como é possível perceber, a tabela acima, com as maiores taxas de homicídio doloso por 100 mil habitantes registradas no período entre 2002 e 2020 é composta somente por pequenos municípios com populações inferiores a 3 mil habitantes. São cidades, que por serem tão pequenas, ao registraram 1 ou 2 homicídios anuais são imediatamente catapultadas para taxas mais elevadas que a de países mais violentos do mundo.

Justamente por isso não se recomenda, que o cálculo de taxas não seja feito em populações inferiores a 100 mil habitantes. Assim, para os cálculos de taxas a seguir, vamos filtrar apenas aqueles com população igual ou maior a 100 mil habitantes no referido ano.

Município Ano Macrorregião População Taxa de Homicídio Doloso
Cubatão 2002 Interior 111922 70.58
Praia Grande 2002 Interior 208329 68.64
Itaquaquecetuba 2002 Grande São Paulo 295663 65.95
Itapevi 2002 Grande São Paulo 173891 65.56
Itapecerica da Serra 2003 Grande São Paulo 143253 60.73
Cubatão 2003 Interior 113599 58.10
Hortolândia 2002 Interior 166549 57.64
Guarujá 2002 Interior 276301 56.46
Hortolândia 2003 Interior 173060 55.47
Cotia 2002 Grande São Paulo 157726 53.89
Itaquaquecetuba 2003 Grande São Paulo 306208 53.88
Osasco 2002 Grande São Paulo 670345 53.70
Guarulhos 2002 Grande São Paulo 1132651 51.83
Taboão da Serra 2002 Grande São Paulo 205547 50.60
Diadema 2002 Grande São Paulo 367958 50.55
Franco da Rocha 2003 Grande São Paulo 115080 50.40
Cotia 2003 Grande São Paulo 161782 50.07
Jacareí 2002 Interior 197061 49.22
Campinas 2003 Interior 1006918 49.16
Itapevi 2003 Grande São Paulo 179209 47.99

A partir da análise apenas dos 79 municípios com mais de 100 mil habitantes, é possível perceber que a lista das 20 maiores taxas de homicídios é dividida entre municípios da Grande São Paulo e do Interior, e se concentra nos anos 2002 e 2003, que como vimos anteriormente, foram os anos iniciais da forte queda nos homicídios dolosos do estado de São Paulo. No ano de 2002 os três municípios com taxas de homicídio mais elevadas - Cubatão, Praia Grande e Itaquaquecetuba, tinham taxas de homicídio duas vezes mais elevadas que a do estado naquele ano, 33 homicídios dolosos por 100 mil habitantes.

20 maiores taxas de estupro por município - 2002 a 2019
Município Ano Macrorregião População Taxa de estupro total
Caraguatatuba 2019 Interior 121532 64.18
Barretos 2014 Interior 118521 64.12
Barretos 2012 Interior 113338 61.76
Praia Grande 2012 Interior 272390 60.57
Tatuí 2019 Interior 121766 56.67
Itapetininga 2016 Interior 158561 56.13
Itanhaém 2019 Interior 101816 55.98
Barretos 2013 Interior 117779 55.19
Botucatu 2019 Interior 146497 53.93
Caraguatatuba 2018 Interior 118526 53.15
Caraguatatuba 2012 Interior 104150 52.81
Ourinhos 2013 Interior 108674 52.45
Barretos 2011 Interior 112730 52.34
Tatuí 2012 Interior 109425 52.09
Ourinhos 2012 Interior 104420 51.71
Guarujá 2012 Interior 294669 51.58
Francisco Morato 2011 Grande São Paulo 156064 51.26
Itapetininga 2019 Interior 163901 50.64
Caraguatatuba 2013 Interior 109678 50.15
Itapetininga 2017 Interior 160070 49.98

Enquanto as 20 maiores taxas de homicídio doloso registradas por muunicípios se concentram nos anos de 2002 e 2003 , no casos das taxas de estuupros por 100 mil habitantes essa concentração não é tão forte, já que são listadas taxas registradas entre 2011 e 2019. Também é imporante destacar que, com a exceção do município de Francisco Morato no ano de 2011, todas as 20 maiores taxas de estupro por 100 mil habitantes no período foram registradas no interior do estado, de forma condizente com os dados da série histórica apresentada anteriormente. O município de Caraguatatuba se destaca não somente com a maior taxa de estupro registrada na série histórica em 2019, mas por aparecer 4 vezes na lista, assim como Barretos.

20 maiores taxas de roubo total por município - 2002 a 2019
Município Ano Macrorregião População Taxa de roubo total
Diadema 2016 Grande São Paulo 415180 1781.40
Diadema 2015 Grande São Paulo 412428 1638.59
Diadema 2017 Grande São Paulo 417869 1605.53
Diadema 2014 Grande São Paulo 409613 1545.85
Diadema 2018 Grande São Paulo 420575 1477.98
Praia Grande 2017 Interior 310024 1472.14
Praia Grande 2009 Interior 249551 1424.56
Diadema 2019 Grande São Paulo 423884 1414.07
Osasco 2017 Grande São Paulo 697886 1396.22
Praia Grande 2007 Interior 244959 1393.70
São Paulo 2014 Capital 11895893 1346.77
Guarujá 2013 Interior 306683 1341.78
Praia Grande 2011 Interior 267307 1335.17
Praia Grande 2014 Interior 293695 1333.70
São Paulo 2016 Capital 12038175 1325.43
Osasco 2016 Grande São Paulo 696382 1325.28
Praia Grande 2010 Interior 260769 1319.94
São Paulo 2015 Capital 11967825 1292.95
Praia Grande 2015 Interior 299261 1277.48
Praia Grande 2006 Interior 245386 1269.43

A lista com as 20 maiores taxas de roubos (total) por 100 mil habitantes é a menos diversa dentre as apresentadas até então: 5 municípios ocupam as 20 posições, sendo que apenas Diadema e Praia Grande são responsáveis por 14 das 20 maiores taxas de roubo registradas no período. Das 20 posições, 8 são ocupadas por municípios da região metropolitana de São Paulo, 9 por municípios do interior, e as outras 3 pela cidade de São Paulo. Além de ocupar o topo da tabela, o município de Diadema nos últimos 6 anos teve a pior taxa de roubos do Estado.

Conclusão

Esta análise preliminar dos dados de criminalidade da Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP/SP) das últimas duas décadas apresenta um vasto potencial para mensuração e orientação das políticas de segurança pública no estado.

A análise evidencia como os distintos fenômenos criminais possuem comportamentos diversos, e que quando falamos de segurança pública, é necessário, no mínimo, prestarmos atenção isoladamente para os crimes contra a vida, contra a propriedade e crimes sexuais.

Por sua vez, a análise preliminar das maiores taxas dos crimes selecionados aponta para uma repetição dos mesmos municípios durante a série histórica, sobretudo no caso dos roubos. São justamente essas localidades que deveriam receber um maior investimento em suas políticas de segurança municipais, mas também serem priorizadas pelo governo de São Paulo como forma de reduzir significativamente os indicadores criminais do estado, sobretudo no caso dos crimes de estupro, que praticamente duplicaram na última década e seguem em tendência de crescimento.

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